Tuesday, December 12, 2006

Ela quer namorar

Decidida, ela quer namorar. Ser mulher de alguém, poder dizer “meu bem”, “meu namorado”, ter um marmanjo do lado. Deixa a menina namorar em paz, mesmo sabendo que a separação é inquieta e não sossega. Ela não quer mais se perder. Vai arrumar a bagunça do seu coração, trocando os pés pelas mãos. Vai? Ela não quer mais sofrer, ela não quer mais chorar. Distraída, vai se embalar em uma nova canção.
Mas diz a ela para tomar muito cuidado, pois o perigo no amor é dobrado. Diz que a poesia mora ao lado e, nunca por descuido, não só por saudades, ela chora em versos duros e se arrisca submersa em palavras.
Não se esqueça depressa dos mortos do verão, que ninguém mais verá, pois ficam apenas na imaginação. São poetas, atletas primaveris que inventam nomes, criam amores e gostam do vento, do fogo, dos dias de sol, das noites de chuva. Não se esqueça que a Cidade dos Poetas fica ao lado da Terra do Nunca e a oeste da Ilha Sempre e que é fácil pegar, quando bem quiserem, um bonde ou mesmo um barquinho para qualquer uma das duas.
Se a moça voltar a chorar, porque o amor escapou, saiu do lugar, diz a ela que todos os caminhos nos levam ao mar. Que existem rios para navegar, vontades para se matar, lembranças para se guardar e esperança para agüentar. Mas agora, nada segura a moça morena de outrora, ela quer namorar.


Djalma Gonçalves,
Primavera de 2006.
Vai passar...

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