Monday, November 27, 2006

Um bombom, uma flor e um sorriso.

Naquela noite ele queria apenas encontrá-la. Ficar perto, afagar seus cabelos e até mesmo ouvir suas loucas e infindas histórias de amor, segurando os ciúmes para não dar na cara. Ligou para ela cedo e disse que estava com muitas saudades. Uma saudade vinda sabe-se lá de onde, mas de encher o peito e marejar os olhos. Realmente não entendia esta loucura repentina de apaixonar-se por ela depois de tanto tempo de amizade sincera e segura, muito menos ela entenderia. Não podia se declarar. Não resolveria nada. A melhor amiga de Ana, agora distante, em terras estrangeiras, que anda pelas ruas de Paris despreocupada, tinha sido amante dele e mais que isso, musa para um de seus mais belos poemas. E para ele, isso não faz muito sentido. A regra três pertence apenas ao futebol.
Mas no Brasil, em Minas Gerais, precisamente na cidade de belos horizontes e bares de esquina, onde a boemia toma uma forma madura e melancólica, tudo se torna possível quando chega a Primavera. Não esperava tamanha aflição. Da noite para o dia acordou angustiado, com a imagem da morena na cabeça. Pesadelos haviam confundido o coração do marmanjo poeta de 27 anos, que tem verdadeira devoção pelas mulheres e pelas coisas criadas por elas, inclusive o amor, a paixão e o choro incontido. Coisas que Ana sabe muito bem e mergulha de cabeça, sempre que pode. E pode!
Comprou um bombom, colheu uma flor na porta de casa e foi em direção ao pequeno sobradinho onde mora a mulher de sua primavera e todos seus sonhos. Antes mesmo de chegar decidiu ligar para ela. A pequena morena não atendeu ao telefone e não deu mais notícia. A flor que ele havia colhido foi atirada na avenida mais movimentada da cidade e o bombom dado a uma destas crianças malabaristas de sinal de trânsito. O sorriso que ele recebeu da garotinha aliviou seu peito e o levou para o bar mais próximo para comemorar sabe-se lá o que.
Tomou algumas cervejas, trocou confidências com o barman, fumou cigarros menos aflitos e foi para casa dirigindo com certo alívio e uma descontração primaveril. Antes de pegar no sono, pegou o violão e entoou alguns acordes bem brasileiros e apaixonados. Acabou sonhando com ela, mas dessa vez de braços e peito abertos para toda poesia e lirismo do mundo. Mas o sonho acabou e o pobre poeta acordou.




Djalma Gonçalves,
Primavera de 2006.
Êta segundinha brava!

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